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domingo, 12 de janeiro de 2014

Conversa estudantil fora do lugar: cotas raciais





Numa escola particular de Londrina, no momento do lanche no intervalo dois alunos dialogam:
Aluno 1: - Sabe, fiquei pensando, depois da visita que fizemos no Projeto Social Cidadão Mirim que cuida de meninos pobres da periferia acompanhado pelo professor de filosofia. Pensei.
Aluno 2: - O que pensou? Indagou o colega estudantil do Ensino Médio.
Aluno 1:  - Ontem a noite fiquei pensando, como poderá um menino daquele que visitamos competir comigo a uma vaga na UEL – Universidade Estadual de Londrina?
Aluno 2: - Hã, aquele que sonha ser médico, pra melhorar a saúde dos favelados! Coitado, nunca conseguirá!
Aluno 1: - No silêncio do meu quarto fiquei pensando: tem uma vaga para 72 pessoas competir. Ele, o menino, não tem computador, acesso a internet, celular e não tem dinheiro para pagar cursinho. Ele estuda, mas tem 40 alunos na sala! Como ele se preparará para competir comigo?
Aluno 2: - De fato, nós temos bons professores, turma com 10 alunos, aula particular e acesso a informação. Sabe, aquela aula sobre a Grécia, quando a professora falava dos lugares e situações históricas, relembrei a visita, o passeio que fiz com minha família. Fica mais fácil de entender a história.
Aluno 1: - Por isso, pensei e sou a favor das cotas raciais para negros.
Aluno 2:  - Acho que deveria ser só para pobres. Cotas para negros é uma forma de racismo.  Não é a cor da pele, branca ou preta que dirá que a pessoa é incapaz de competir em situação de igualdade. É racismo se separar o negro do branco.
Aluno 1: - Não é isso. Lendo sobre as políticas de cotas a questão é que na nossa sociedade entre os pobres os de cor preta são os mais discriminados, excluídos das oportunidades de mudança de vida. Você já viu gerente de banco preto? No nosso meio têm pretos? Não tem! Somente como empregado, porteiro de prédio, etc.
Aluno 2: - É mesmo, de fato. Aquele menino que quer ser médico, coitado, vai ficar só na vontade.
Aluno 1: - Fiquei pensando, ontem – o que nós podemos fazer?
Enquanto isso, o sinal escolar automático toca avisando o término do intervalo.
Aluno 2: -  Vamos pra sala, tocou o sinal. Chega de sonho e utopia, nesta conversa fora do lugar. 

Lentamente os dois estudantes retornam para a sala de aula, mais um dia após o outro.   

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