Numa escola particular de Londrina, no
momento do lanche no intervalo dois alunos dialogam:
Aluno 1: - Sabe, fiquei pensando, depois da visita
que fizemos no Projeto Social Cidadão Mirim que cuida de meninos pobres da
periferia acompanhado pelo professor de filosofia. Pensei.
Aluno 2: - O que pensou?
Indagou o colega estudantil do Ensino Médio.
Aluno 1: -
Ontem a noite fiquei pensando, como poderá um menino daquele que visitamos
competir comigo a uma vaga na UEL – Universidade Estadual de Londrina?
Aluno 2: - Hã, aquele que
sonha ser médico, pra melhorar a saúde dos favelados! Coitado, nunca
conseguirá!
Aluno 1: - No silêncio do meu quarto fiquei
pensando: tem uma vaga para 72 pessoas competir. Ele, o menino, não tem
computador, acesso a internet, celular e não tem dinheiro para pagar cursinho. Ele
estuda, mas tem 40 alunos na sala! Como ele se preparará para competir comigo?
Aluno 2: - De fato, nós temos
bons professores, turma com 10 alunos, aula particular e acesso a informação. Sabe,
aquela aula sobre a Grécia, quando a professora falava dos lugares e situações
históricas, relembrei a visita, o passeio que fiz com minha família. Fica mais
fácil de entender a história.
Aluno 1: - Por isso, pensei e sou a favor das cotas
raciais para negros.
Aluno 2: - Acho que deveria ser só para pobres. Cotas
para negros é uma forma de racismo. Não
é a cor da pele, branca ou preta que dirá que a pessoa é incapaz de competir em
situação de igualdade. É racismo se separar o negro do branco.
Aluno 1: - Não é isso. Lendo sobre as políticas de
cotas a questão é que na nossa sociedade entre os pobres os de cor preta são os
mais discriminados, excluídos das oportunidades de mudança de vida. Você já viu
gerente de banco preto? No nosso meio têm pretos? Não tem! Somente como
empregado, porteiro de prédio, etc.
Aluno 2: - É mesmo, de fato.
Aquele menino que quer ser médico, coitado, vai ficar só na vontade.
Aluno 1: - Fiquei pensando, ontem – o que nós
podemos fazer?
Enquanto isso, o
sinal escolar automático toca avisando o término do intervalo.
Aluno 2: - Vamos pra sala, tocou o sinal. Chega de sonho
e utopia, nesta conversa fora do lugar.
Lentamente os dois
estudantes retornam para a sala de aula, mais um dia após o outro.