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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017




Não há sinais de que 2017 seja muito diferente de 2016.

Achille Mbembe (1957, Camarões francês) é historiador, pensador pós-colonial e cientista político, (in: Mail & Gardian, Africa do Sul, 22.dez.2016 - tradução de André Langer). apud - jornalggn.com.br.

Sob a ocupação israelense por décadas, Gaza continuará a ser a maior prisão a céu aberto do mundo.

Nos Estados Unidos, o assassinato de negros pela polícia continuará ininterruptamente e mais centenas de milhares se juntarão aos que já estão alojados no complexo industrial-carcerário que foi instalado após a escravidão das plantações e as leis de Jim Crow.

Europa continuará sua lenta descida ao autoritarismo liberal ou o que o teórico cultural Stuart Hall chamou de populismo autoritário. Apesar dos complexos acordos alcançados nos fóruns internacionais, a destruição ecológica da Terra continuará e a guerra contra o terror se converterá cada vez mais em uma guerra de extermínio entre as várias formas de niilismo.

As desigualdades continuarão a crescer em todo o mundo. Mas, longe de alimentar um ciclo renovado de lutas de classe, os conflitos sociais tomarão cada vez mais a forma de racismo, ultranacionalismo, sexismo, rivalidades étnicas e religiosas, xenofobia, homofobia e outras paixões mortais.

A difamação de virtudes como o cuidado, a compaixão e a generosidade vai de mãos dadas com a crença, especialmente entre os pobres, de que ganhar é a única coisa que importa e de que ganhar – por qualquer meio necessário – é, em última instância, a coisa certa.

Com o triunfo desta aproximação neodarwiniana para fazer história, o apartheid, sob diversas modulações, será restaurado como a nova velha norma. Sua restauração abrirá caminho para novos impulsos separatistas, para a construção de mais muros, para a militarização de mais fronteiras, para formas mortais de policiamento, para guerras mais assimétricas, para alianças quebradas e para inumeráveis divisões internas, inclusive em democracias estabelecidas.

Nenhuma das alternativas acima é acidental. Em qualquer caso, é um sintoma de mudanças estruturais, mudanças que se farão cada vez mais evidentes à medida que o novo século se desenrolar. O mundo como o conhecemos desde o final da Segunda Guerra Mundial, com os longos anos da descolonização, a Guerra Fria e a derrota do comunismo, esse mundo acabou.

Outro longo e mortal jogo começou. O principal choque da primeira metade do século XXI não será entre religiões ou civilizações. Será entre a democracia liberal e o capitalismo neoliberal, entre o governo das finanças e o governo do povo, entre o humanismo e o niilismo.

O capitalismo e a democracia liberal triunfaram sobre o fascismo em 1945 e sobre o comunismo no começo dos anos 1990 com a queda da União Soviética. Com a dissolução da União Soviética e o advento da globalização, seus destinos foram desenredados. A crescente bifurcação entre a democracia e o capital é a nova ameaça para a civilização.

Apoiado pelo poder tecnológico e militar, o capital financeiro conseguiu sua hegemonia sobre o mundo mediante a anexação do núcleo dos desejos humanos e, no processo, transformando-se ele mesmo na primeira teologia secular global. Combinando os atributos de uma tecnologia e uma religião, ela se baseava em dogmas inquestionáveis que as formas modernas de capitalismo compartilharam relutantemente com a democracia desde o período do pós-guerra – a liberdade individual, a competição no mercado e a regra da mercadoria e da propriedade, o culto à ciência, à tecnologia e à razão.

Cada um destes artigos de fé está sob ameaça. Em seu núcleo, a democracia liberal não é compatível com a lógica interna do capitalismo financeiro. É provável que o choque entre estas duas ideias e princípios seja o acontecimento mais significativo da paisagem política da primeira metade do século XXI, uma paisagem formada menos pela regra da razão do que pela liberação geral de paixões, emoções e afetos.

Nesta nova paisagem, o conhecimento será definido como conhecimento para o mercado. O próprio mercado será re-imaginado como o mecanismo principal para a validação da verdade. Como os mercados estão se transformam cada vez mais em estruturas e tecnologias algorítmicas, o único conhecimento útil será algorítmico. Em vez de pessoas com corpo, história e carne, inferências estatísticas serão tudo o que conta. As estatísticas e outros dados importantes serão derivados principalmente da computação. Como resultado da confusão de conhecimento, tecnologia e mercados, o desprezo se estenderá a qualquer pessoa que não tiver nada para vender.

A noção humanística e iluminista do sujeito racional capaz de deliberação e escolha será substituída pela do consumidor conscientemente deliberante e eleitor. Já em construção, um novo tipo de vontade humana triunfará. Este não será o indivíduo liberal que, não faz muito tempo, acreditamos que poderia ser o tema da democracia. O novo ser humano será constituído através e dentro das tecnologias digitais e dos meios computacionais.

A era computacional – a era do Facebook, Instagram, Twitter – é dominada pela ideia de que há quadros negros limpos no inconsciente. As formas dos novos meios não só levantaram a tampa que as eras culturais anteriores colocaram sobre o inconsciente, mas se converteram nas novas infraestruturas do inconsciente. Ontem, a sociabilidade humana consistia em manter os limites sobre o inconsciente. Pois produzir o social significava exercer vigilância sobre nós mesmos, ou delegar a autoridades específicas o direito de fazer cumprir tal vigilância. A isto se chamava de repressão.

A principal função da repressão era estabelecer as condições para a sublimação. Nem todos os desejos podem ser realizados. Nem tudo pode ser dito ou feito. A capacidade de limitar-se a si mesmo era a essência da própria liberdade e da liberdade de todos. Em parte graças às formas dos novos meios e à era pós-repressiva que desencadearam, o inconsciente pode agora vagar livremente. A sublimação já não é mais necessária. A linguagem se deslocou. O conteúdo está na forma e a forma está além, ou excedendo o conteúdo. Agora somos levados a acreditar que a mediação já não é necessária.

Isso explica a crescente posição anti-humanista que agora anda de mãos dadas com um desprezo geral pela democracia. Chamar esta fase da nossa história de fascista poderia ser enganoso, a menos que por fascismo estejamos nos referindo à normalização de um estado social da guerra. Tal estado seria em si mesmo um paradoxo, pois, em todo caso, a guerra leva à dissolução do social. No entanto, sob as condições do capitalismo neoliberal, a política se converterá em uma guerra mal sublimada. Esta será uma guerra de classe que nega sua própria natureza: uma guerra contra os pobres, uma guerra racial contra as minorias, uma guerra de gênero contra as mulheres, uma guerra religiosa contra os muçulmanos, uma guerra contra os deficientes.

O capitalismo neoliberal deixou em sua esteira uma multidão de sujeitos destruídos, muitos dos quais estão profundamente convencidos de que seu futuro imediato será uma exposição contínua à violência e à ameaça existencial. Eles anseiam genuinamente um retorno a certo sentimento de certeza – o sagrado, a hierarquia, a religião e a tradição. Eles acreditam que as nações se transformaram em algo como pântanos que necessitam ser drenados e que o mundo tal como é deve ser levado ao fim. Para que isto aconteça, tudo deve ser limpo. Eles estão convencidos de que só podem se salvar em uma luta violenta para restaurar sua masculinidade, cuja perda atribuem aos mais fracos dentre eles, aos fracos em que não querem se transformar.

Neste contexto, os empreendedores políticos de maior sucesso serão aqueles que falarem de maneira convincente aos perdedores, aos homens e mulheres destruídos pela globalização e pelas suas identidades arruinadas.

A política se converterá na luta de rua e a razão não importará. Nem os fatos. A política voltará a ser um assunto de sobrevivência brutal em um ambiente ultracompetitivo.

Sob tais condições, o futuro da política de massas de esquerda, progressista e orientada para o futuro, é muito incerto. Em um mundo centrado na objetivação de todos e de todo ser vivo em nome do lucro, a eliminação da política pelo capital é a ameaça real. A transformação da política em negócio coloca o risco da eliminação da própria possibilidade da política.

Se a civilização pode dar lugar a alguma forma de vida política, este é o problema do século XXI.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Direitos Humanos da vítima ou do bandido?


Bandidos enfrentam a polícia em Cambé, 2013.[versão da PM - "defensor" das vítimas]. Foto: Portal Cambé. 

Participei (06/12/2014) de evento na  Faculdade Uninorte - Oficina sobre Direitos Humanos da vítima ou do bandido? Uma abordagem jurídico-filosófica e sociológica. Os facilitadores foram eu, prof. Joaquim P. de Lima (filósofo e sociólogo) e prof. Fabrício Carraro (advogado, direito penal). Participaram membros da comunidade e acadêmicos do curso de Direito e Pedagogia. Debatemos sobre:
1. As violências, os atores e as Leituras Binárias (Nós-Eles; Bem-Mal; Eu-Outro)mediante um diagnóstico como o senso comum identificam situações de violência.

2. - Os direitos humanos e os humanos sem direitos. Refletimos sobre as razões da dualidade e binaridade nas leituras e situações de violência contra a dignidade humana.

3. A vítima e o bandido. O herói e o bandido. Aprofundamos sobre o dualismo e as interpretações do dogmatismo, idealista,do pensamento débil, e do dialético. 

4. Os fundamentos dos direitos humanos na ótica da libertação e a luz do princípio da dignidade humana assenta da superação do reducionismo, pensamento único egocêntrico, mercadocêntrico e individualista, e supressão do etnocentrismo e darwinismo social.
A construção de um pensamento jurídico de direitos humanos na ótica da emancipação, autonomia e liberdade do ser humano exige-se pensar a partir das classes subalternas, mediado pelas categorias da proximidade, totalidade e liberdade situada, conforme o filósofo Enrique Dussel.
Concluimos que Direito da Pessoa Humana na condição de vítima, dialéticamente, aprofundando a totalidade de sua identidade esta torna-se um bandido e o bandido torna-se vítima. A graduação e valoração do direito é designado pela relação de poder e cultura.  A superação ocorrerá mediante um movimento de formação de uma consciência intelectual moral, ética e política em torno de um projeto coletivo de Sociedade Justa, Igualitária e Solidária. 



domingo, 9 de fevereiro de 2014

Movimento social de moradia sem jeito de movimento

Política pública é o governo em ação.  Por outro lado, as políticas públicas são armadilhas às reformas sociais profundas, afirma o prof. Francisco Fonseca (FGV). Nos 40 dias de 2014, no município de Londrina ocorrem 4 ocupações de terrenos urbanos (a mídia nativa conservadora - defensora da propriedade rural - chama de invasão) perfazendo um total de 1.000 famílias, conforma Folha de Londrina (09.02.2014, p.14).    No editorial a Folha branda que o sociedade (civil) cobre da sociedade política (Estado) a efetiva dos preceitos constitucionais - do governo em ação - dando respostas as desmandas reais da população. Há uma política pública habitacional municipal e os meios, em Londrina (Cohab), estadual (Cohapar), e federal (Minha Casa Minha Vida). Por que não se efetiva as demandas? Se no governo federal  de origem democrática popular (PT) tem uma política pública (projeto, recursos, amparo legal) carece de articulação junto aos outros níveis de governo (estadual, municipal).
Terreno ocupado por famílias na região Norte de Londrina. Janeiro. 2014. Fonte: Bonde.
Para a efetivação de uma política pública na promoção de resultados a um problema (as famílias sairem do moradia alugada para a própria) exige-se do gestor: governabilidade sobre o problema, isto é, poder de fogo do decidir e cumprir o decidido; capacidade; vontade de resolver o problema; mensurar o impacto ou grau de dificuldade imposta pelo problema na ação do gestor.
A questão fundamental mediadora do problema é o poder de força/pressão dos atores:as famílias pobres - "as Cidas e seus famíliares", conforme a Folha; os especuladores imobiliários e a guarda pretoriana municipal de defesa de seus interesses - rádios, TV, jornais - denominados pelo filósofo italiano Antonio Gramsci (prisioneiro do Mussolini - 1926-1937) como aparelho privado de hegemonia.
O governo municipal é um consórcio dos grupos sociais dominantes do capital agrícola-agrário e o comercial para travar as políticas públicas e matar "a cultura de invasão" da sacrossanta propriedade privada, tanto no executivo, legislativo e judiciário.
O governo federal é refém e cúmplice de tal armadilha e trava das políticas públicas habitacionais. O medo de enfrentar o Kapital leva o Trabalho a reagir de forma espontânea por meio de uma estratégia voluntarista despolitizada, individualizada, obscurendo as reformas profundas e necessárias.
Os precarizados e as classes "C" ou Médias querem mais. Querem que os seus filhos tenha os direitos garantidos.
Na década de 1980, Londrina, era um palco de luta por moradia. As favelas e grandes bairros (União da Vitória e João Turquino, e outros ) são frutos de tais lutas. Havia e há um quadro de necessidade  e uma condução política na formulação da agenda setting, projeto e negociação. Dois atores mediadores fntelectuais orgânicos das classes subalternas, partidos populares (PCB, PCBR, PT) e Igreja Católica -setor Teologia da Libertação. O mediador político, pelo lado do Kapital, dos interesses imobiliaristas e condutor de ações populista para evitar o dissenso, foi chamado o Sr. Antonio Cassimiro Belinati.'Autorizou'as ocupaçoes "irregulares" para distender e dissuadir as ocupações rurais na Colônia Penal Agrícola de Tamarana, áreas indígenas do Apucaraninha, Fazenda Guairacá, Lerroville e outras. Era um movimento com jeito de movimento.
Atualmente o movimento por moradia é real, mas carece de movimento orgânico. Há um certo niilismo dos intelectuais "orgânicos" dos partidos de esquerda e das igrejas de libertação disfarçado de radicalismo contra a revolução não realizada pela reality politique "neodesenvolvimentista" designado por alguns destes.
Quando a ficha cair e des-cobrir o véu que cobre a realidade - elucidar o real - haverá uma luta armada de crítica das armas e armas da crítica. 

domingo, 12 de janeiro de 2014

Conversa estudantil fora do lugar: cotas raciais





Numa escola particular de Londrina, no momento do lanche no intervalo dois alunos dialogam:
Aluno 1: - Sabe, fiquei pensando, depois da visita que fizemos no Projeto Social Cidadão Mirim que cuida de meninos pobres da periferia acompanhado pelo professor de filosofia. Pensei.
Aluno 2: - O que pensou? Indagou o colega estudantil do Ensino Médio.
Aluno 1:  - Ontem a noite fiquei pensando, como poderá um menino daquele que visitamos competir comigo a uma vaga na UEL – Universidade Estadual de Londrina?
Aluno 2: - Hã, aquele que sonha ser médico, pra melhorar a saúde dos favelados! Coitado, nunca conseguirá!
Aluno 1: - No silêncio do meu quarto fiquei pensando: tem uma vaga para 72 pessoas competir. Ele, o menino, não tem computador, acesso a internet, celular e não tem dinheiro para pagar cursinho. Ele estuda, mas tem 40 alunos na sala! Como ele se preparará para competir comigo?
Aluno 2: - De fato, nós temos bons professores, turma com 10 alunos, aula particular e acesso a informação. Sabe, aquela aula sobre a Grécia, quando a professora falava dos lugares e situações históricas, relembrei a visita, o passeio que fiz com minha família. Fica mais fácil de entender a história.
Aluno 1: - Por isso, pensei e sou a favor das cotas raciais para negros.
Aluno 2:  - Acho que deveria ser só para pobres. Cotas para negros é uma forma de racismo.  Não é a cor da pele, branca ou preta que dirá que a pessoa é incapaz de competir em situação de igualdade. É racismo se separar o negro do branco.
Aluno 1: - Não é isso. Lendo sobre as políticas de cotas a questão é que na nossa sociedade entre os pobres os de cor preta são os mais discriminados, excluídos das oportunidades de mudança de vida. Você já viu gerente de banco preto? No nosso meio têm pretos? Não tem! Somente como empregado, porteiro de prédio, etc.
Aluno 2: - É mesmo, de fato. Aquele menino que quer ser médico, coitado, vai ficar só na vontade.
Aluno 1: - Fiquei pensando, ontem – o que nós podemos fazer?
Enquanto isso, o sinal escolar automático toca avisando o término do intervalo.
Aluno 2: -  Vamos pra sala, tocou o sinal. Chega de sonho e utopia, nesta conversa fora do lugar. 

Lentamente os dois estudantes retornam para a sala de aula, mais um dia após o outro.   

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

"Os indiferentes" - Gramsci - 2014

Parabéns - Feliz 2014. Não sejamos INDIFERENTE com a história.

Neste novo ano - 2014 - que se inicia, conforme a minha fé no Deus da Vida, reflito: "sou um passageira errante neste mundo" e tenho uma missão a cumprir (Salmo 79). Não posso ser, e devo indignar-se frente aos indiferentes. 
O pensador italiano, Antonio Gramsci, preso, encarcerado e morto (1926-1937) pelo fascismo - pela direita - escreveu um brilhante texto, disponível nos Cadernos do Cárcere, sugiro como leitura:

Os Indiferentes    - Gramsci



Odeio os indiferentes. Creio, que “viver é tomar partido”. Não podem existir os que são apenas homens, os estranhos à cidade. Quem vive verdadeiramente não pode deixar de ser cidadão e de tomar partido. Indiferença é abulia, é parasitismo, é covardia, não é vida. Por isso, odeio os indiferentes.

A indiferença é o peso morto da história. É a âncora que paralisa o inovador, a matéria inerte onde se afogam frequentemente os mais esplêndidos estusiasmo, o pântano que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, já que traga em suas areias movediças os que a combatem e os dizima, os desencoraja e, muitas vezes os faz desistir do empreendimento heróico.

A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade, aquilo com que não se pode contar; é o que abala os programas, inverte os planos mais bem-construídos; é a matéria bruta que se rebela contra a inteligência e a destroça. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se deve tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absenteísmo dos muitos. O que acontece não acontece tanto porque alguns querem que aconteça, mas sobretudo porque a massa dos homens abdica de sua vontade, deixando que outros façam, que se formem os nós que depois só a espada poderá cortar, que se promulguem as leis que depois só a revolta fará ab-rogar, que subam ao poder os homens que depois só um motim poderá derrubar. A fatalidade que parece dominar não é mais do que, precisamente, a aparência ilusória dessa indiferença, desse absenteísmo. 


Feliz - 2014. (aos amigos e adversários na leitura da realidade).


O corpo nú e o moralismo.


A televisão pública da Dinamarca apresenta um programa sexista, em que um âncora e um amigo tecem comentários sobre o corpo nú de uma mulher. Há uma polêmica.
Tal programa revela, isto é, des-cobre a discussão sobre o corpo nú, a estética, o belo x a mercadoria, o prazer machista, competição sobre a forma. Para alguns, tal programa é ocasião de pecado, pior ainda, em uma televisão pública.
Frente ao dualismo platônico (alma-corpo; bem-mal), o moralismo medieval de setores da Igreja Católica/ Evangélicas e a civilização capitalista o corpo tornou-se o grande vilão na moral e na economia. Conforme o platonismo (Platão, 427-347 a.C) os valores universais (Bem, Verdade, Bondade, etc.) devem se impor, enquanto princípios éticos à conduta e prática. Para Santo Agostinho (354-430) o corpo é fonte do mal, o ser humano deve-se pautar pelo cuidado da alma. Na civilização capitalista, com a reificação do ser humano (MARX), o corpo tornou-se uma mercadoria, sob controle e consumo dos indivíduos.
O programa poderia apresentar também o corpo nú de homens e os comentários de homens e mulheres.
Algumas perguntas devem ser respondidas: o que é o belo? O que é o prazer?
O que é moralidade privada e pública?
Veja o vídeo do programa:
 http://www.lasexta.com/noticias/mundo/television-danesa-humilla-mujeres-programa-mas-sexista-historia_2013050300172.html
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sábado, 6 de abril de 2013

O deus Capital necessita de sangue

O pensamento conservador - neoliberal - entende que na relação Capital-Trabalho deve predominar a liberdade - livre mercado - sem regulação.  O Estado não deve interferir nas relações trabalhistas. As necessidades sociais da Força de Trabalho em situação de vulnerabilidade, sem poder, aceita qualquer condição de trabalho, frente ao poder econômico do Capital - leva a precarização do trabalho. A modernização das relações de trabalho,conforme princípios liberais, rege pela dignidade da pessoa humana, autonomia, justiça, igualdade, mesmo que formal. Nem isso o neoliberal segue.

No artigo de Kátia de Abreu, representante-mor do agro-negócio, neste sábado, 06/04, aponta a 'utopia' da bíblia do neoliberalismo - "deixe fazer", que o mercado a regule. Expõe, ocultamente, a sua concepção de ser humano no processo produtivo: é meramente uma coisa, peça útil - tal como um veículo - donde afirma que é de responsabilidade do empreendedor a forma de produzir e "inclusivo do ponto de vista trabalhista", acrescenta. A edil senadora trata a força de trabalho como um apêndice nas novas relações de produção. Não entende que o Trabalho é que dá valor no processo produtivo. O capital quer lucro, lucro maior, e para isso superexplora a força de trabalho. O Estado - quartel general da burguesia - deve dar sustentação e legitimação do processo de superexploração da força de trabalho. No Brasil, na continuidade do governo Lula, Dilma esta proporcionando queda no processo de concentração de riqueza e redução do lucro, vide os lucros dos bancos (2012) Itaú, Bradesco, e aumento do BB e CEF. O Lula vai ser julgado pelo STF, tal como José Dirceu, ação da elite para impedir seu retorno a Presidência e freiar o crescimento do trabalhismo. O embate entre PT e PSDB tem tal substrato de fundo: buscar a igualdade real ou manter a desigualdade.
O Capital, deus, necessita de sangue dos trabalhadores para serem colocados no altar de Moloc. Veja artigo de KátiaAbreu, Folha de São Paulo. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/102329-na-contramao-da-modernidade.shtml 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Tripe Social - e a elite se indigna com a inclusão social

A elite brasileira, por meio de seus aparelhos privados de hegemonia, fica indignada com a política econômica do governo federal que excluiu a política de centralidade no ganho do capital para a valorização da centralidade do trabalho. Acesse o artigo no jornal Estadão (12.02.2013) http://www.estadao.com.br/noticias/geral,tripe-social,995211,0.htm 
O intelectual orgânico do capital - prof. Denis L Rosenfield, colega docente de filosofia da UFRGS expõe o debaclê de perdedor. Prevê na tristeza que eleitoralmente, em 2014, tal grupo social que o represente, irá perder o pelito. O "tripé social constituido pela programa Bolsa-Família, aumento de renda e benefícios da classe média ascendente e a situação  de pleno emprego", afirma, contrapõe o tripe econômico oriundo da política do FMI e Consenso de Wasghinton e implementado por FHC (1994-2002): o tripe do "superávit fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação".
Moradia  Bairro Campos Verdes - periferia - Cambé-PR.

Vale apenas afirmar que tal política não produz revolução mas sim reforma. Para alguns, representam as condições necessárias e objetivas, não a desejada, para viabilizar um processo de mudanças sociais, econômicas e políticas na sociedade brasileira, denominada por Gramsci como revolução passiva. A mudança não é promovida por um grupo social - dos de baixos - mas sim promovida pelo Estado.
Vale a pena ler: André Singer, Os sentidos do lulismo: reforma gradual e pacto conservador, Editora Companhia das Letras, 2012
A elite não aceita o fim da desigualdade e o combate a miséria. 


O individualismo - ideologia da modernidade

O teólogo João Batista Libânio (jesuita) afirma (no Adital) que nós cristãos temos como referência Jesus Cristo que viveu sua existência no século I centrado na idéia de felicidade em Deus Pai e na ação com os  irmãos.  O individualismo assenta na cultura e ideologia (visa de mundo cuja produção advém da relação entre os homens) do sistema econômico voltado para os interesses individuais. A cultura casa com os instintos  de auto defesa como garantia da vida: instinto pessoais e sociais.
Reafirma o teólogo que a cultura ocidental capitalista reforça o individualismo, mas o cristianismo contrapõe com a cultura da fraternidade, solidariedade e partilha. Veja o artigo no site da Adital:
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=73473