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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O QUE PLÍNIO, BICUDO, MARINA E BISPO BERGONZINI TEM EM COMUM?

Joaquim Pacheco de Lima.

Uma pergunta que no pós-1° turno nas eleições de 2010 inquieta-me: por que o Plínio(Psol), a Marina (PV), o jurista Hélio Bicudo (ex-PT) não manifestam apoio a Dilma, candidato do governo e do PT a eleição com pleito em 31/10? É evidente na história da política brasileira a influência dos líderes cristãos acima citados, ex-dirigentes ou fundadores do PT. O dizer, o sentir, e o fazer destes foram iluminados pelos valores cristãos como princípios orientadores de vida. O PT, composto por milhares de militantes, desde os grotões nos sertões agrestes aos grandes centros urbanos, vive uma mística, e praticam uma luta por um mundo melhor. Negar isso é miopia e reducionismo. A graduação de tal mística difere conforme o contexto e tempo histórico. Se há divergência quanto aos quadros dirigentes na condução da estratégia política e da tática no que tange a um projeto de sociedade não pode-se confundir o particular, momentâneo e histórico, com o universal. Tenho a tese de que o Poder - as relações sociais no mundo do poder político representativo - simbolicamente - conduzem a uma cegueira e a um dogmatismo idealista. O poder - 'a mosca azul' (cf. livro do Frei Betto)- subjetivamente leva as pessoas a um sentimento de superioridade transcendente, beirando o darwinismo social praticado pelos europeus com as colônias.
Conheci o Bicudo no meado da década de 1980 na Pastoral Operária e nos Intereclesiais de CEBs.Encontrei-o neste ano em um seminário jurídico e expressou um rancor político com o governo federal (o veneno da mosca azul – que ofusca o sentimento x razão/particular e universal).
O Plínio de Arruda apeado do poder do Governo Lula pelo jogo de forças e interesses no governo federal, e o pragmatismo político, contrapos a sua visão utópica. O impossível estratégico (socialismo) e o possível tático (mudanças nas relações produtivas (produção, distribuição e consumo) no capitalismo brasileiro entra em crise como negação da negação. A contradição é princípio teórico da dialética e não na prática. Captar a contradição neste processo é muito complexo. A candidatura de Plínio no imaginário da popular, enquanto projeto político de sociedade, fomenta um estigma de ilusionismo, e ventrilogia de um 'bêbado desditado' em um bar da vida. Há o risco de que o socialismo tornar-se um blaquê, ou aforismo de humor.
A Marina, cristã da metamorfose ambulante, de uma utopia cristã neo-dogmática, coberta por uma moral iluminista, de um existencialismo sartriano, em que está no PV e não é do PV. O Reino de Deus no capitalismo é um processo de pactuação, tal como Paulo e Pedro nas primeiras comunidades cristãs. A mosca azul proporciona, subjetivamente, relações e identidade que o mecanismo de compensação psicológica, denominado de racionalização, justifica atitude e postura.
O jornalista, bispo da CNBB-Regional Sul 1, Dom. Bergonzini assume a postura de Dom Quixote, defensor da moral e princípios mantenedores da ordem e progresso de um futuro - o Reino de Deus - em que a desigualdade, na sociedade capitalista possível, colorida sob o manto da fé, contraposta a uma sociedade comunista atéia (idealista) é natural e fatal. O dogma de fé, o Bem - 'creio em Deus Pai, criador do Céu e da Terra... - deve prevalecer em luta para derrotar o Mal. A lógica é: quem é contra o Mal contém ou está contido o Bem, ‘quem não é contra mim está ao meu favor. O dogma (universal-abstrato) é superior que os fatos (particular-concreto).
O ataque do bispo Bergonzini com os panfletos contra o PT (Dilma) esconde sob o princípio do aborto, pois a criança que morre com fome, conforme o acomodação fatalista da Desigualdade natural justifica tal fato. Ao denunciar ao Papa, o superior Vigilante da Ordem (Dogma), o irmão bispo de Jales que em artigo na mídia o acusa de crime observa no ato do outro um ato político partidário (particular)profano, ligado ao Mal , e o feito como universal, neutro - sagrado, vinculado ao Bem. ‘A razão tem razões que a razão desconhece’(Pascal).
Os quatros atores históricos nesta última campanha eleitoral têm a similaridade quanto: a motivação cristão; a interesse coletivo e público; e o idealismo hegeliano que contraditoriamente caem no dualismo diletante. Prognóstico daqui a três anos: infelismente, fatalisticamente os três 'dom quixotes franciscanos' no aquário da política, estarão frustrados no canto da vida observando a matilha passar.

* Docente de filosofia e sociologia, Faculdade Uninorte, Londrina-PR.

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