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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A crise política em Londrina e o retro da hegemonia do pensamento conservador

 A eleição em Londrina, 2012, revela as armas e os instrumentos ideológicos do pensamento conservador que busca ser hegemônico. Na arquitetura das idéias políticas Londrina convivia, desde os anos 1980 com cinco paredes coloridas com ideologias complementares e contrárias: a conservadora-tradicional; a liberal-progressista; neoliberal cínico; esquerda-fundamentalista pós moderna; esquerda social-desenvolvimentista. Com atuação no campo da sociedade política (Estado) e na sociedade civil tais grupos sociais dispunham de suas bandeiras conforme o grupo social representado e  integrado aos interesses cultural-moral, econômico e político. Rememorando, em Londrina, as esquerdas detinha nas décadas de 1980 e 1990 a hegemonia cultural. Perdeu totalmente com o ascenso ao governo municipal, não ao poder, Gestão Cheida(PT) e agora em outro partido (o PMDB).
Eu amo o que você faz


A utopia de uma sociedade justa e igualitária pervadia o imaginário das organizações estudantis (DCE), as igrejas de libertação (CEBs, movimento Fé & Política, as teologias – TdL e TR, e a CPT e MST), o movimento sindical incipiente e vitaminado com a vitória da oposição no Sindicato dos Bancários em 1984 e a constituinte(1987-88). Os aparelhos privados de hegemonia da burguesia e sequazes, segundo a visão gramsciana, seguia uma dualidade liberal de distensão frente a ação histórica e política da classe dos de baixo, considerando a estratégia política da ‘revolução prussiana’ da crítica marxiana.
O pensamento conservador-tradicional no final do século passado, em momento de refluxo e dissenso, é preciso submergir e sutilmente constituir forças. E a estratégia política foi de agregar força com o grupo social do pensamento neoliberal. O predomínio do primeiro sobre o segundo ocorreu no quadro do espaço moral-religioso, mas a tática do segundo com os instrumentos de coesão: simulação, simulacro, cinismo, plastificação iluminista, proporcionou-lhe domínio e controle no espaço do poder – e o fenômeno ‘richiano’ expressão do ‘lernismo oculto’. O objetivo de tal grupo é buscar o consentimento da massa para cimentar o domínio econômico de setores dominante na sociedade civil sob o ab-uso do fundo público.
A crítica à razão conservadora assenta no princípio de que a realidade denominada de precária não é imutável pelo poder das instituições sociais mas sim articulará com as outras dimensões da vida do ser humano, livre, autônomo e consciente.
As esquerdas londrinense, fruto do imobilismo e sombra de pessimismo que tomou conta no final do século passado, aborda a política e os atores políticos pela razão utilitarista benthaniamo, travestido de pragmatismo político de Maquiavel ou de Gramsci. O desenvolvimento da história deve ocorrer conforme o previsto, qualquer diferença é fruto de história com seu poder transcedente. A esquerda fundamentalista focado no modelo do estruturalismo e sistêmico, sombreado pelo idealismo hegeliano (a idéia é o real e o real é a idéia) e na bipolaridade do ‘materialismo’ bakunin-kantiano, crê na mudança histórica materialista da razão, cuja subjetividade é dominada por três dos sete pecados capitais. A esquerda utopista voluntarista cristã sobrevive na penumbra dos governos e poder como força supletiva, mas o juízo ético-moralizante ofusca e o embriaga turvando a leitura de realidade e a prática política espontaneísta, focado nos interesses da corporação religiosa negada&amada como prostituta do Bataclan ilheense. “A humanidade não se propõe nunca senão os problemas que ela pode resolver, ver-se-á, sempre, que o próprio problema só se apresenta quando as condições materiais para resolvê-lo existem ou estão em vias de existir”.
Os aparelhos privados ideológicos dominantes ou de hegemonia disseminam ‘agrotóxicos’ sobre o real e copta o segmento classe média sob o projeto de sociedade assentado na Desigualdade.  O populismo, enquanto expressão do pensamento liberal-progressista, cujo conteúdo é a retórica iluminista, assentado no mito da vanguarda rompante, tal como Pedro, o zelotas, ironizado por Jesus, ousou ameaçar autonomia frente ao poder das oligarquias encastelado nos aparelhos jurisconsultes, no presbitério pentecostal ululante e mídia nativa conservadora. A ação dos aliados neoliberais foi de cassação, expulsão, massacre e ‘procastelação’ dos populistas. A dúvida, o risco de ganho preterido das grandes corporações como Walmart, TLC&P e outras nas áreas de comércio, serviço, informática&telecomunicação e construção não é algo que se procastina, mas sim pune com ação da sociedade política cuja função é de coerção e violência na busca do consentimento, afirmou o jovem Marx em 1843 na obra ‘Crítica à filosofia do direito em Hegel’.
O pensamento conservador em posse e no manuseio dos aparelhos de repressão do Estado trina no céu, com os holofotes da mídia nativa, a mensagem – a hegemonia é necessária enquanto direção política de um projeto utópico de sociedade assentado no equilíbrio mercado, e exige sacrifícios e sangue dos grupos sociais vulneráveis. O poder cimentará no baseado no consenso e se necessário no puro exercício da força e da coersão. Os aderentes da razão utópica cristão, sujeitos na/da história, promoverão ações como reação. Qual será a ação histórica? Veremos.


[1] Professor de filosofia e sociologia na Faculdade Norte Paranaense - Uninorte, mestrando em Filosofia Contemporânea (UEL), sociólogo, especialista em políticas públicas, e-mail: joaquimpio@yahoo.com.br

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